Uma investigação da Polícia Civil do Mato Grosso mira um grupo acusado de manipular editais, favorecer candidatos e fraudar etapas das seleções públicas. O suposto esquema teria ocorrido em concursos nos estados do Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. A operação, batizada de "Ludificatum", foi deflagrada na última terça-feira, 28 de maio.

Coordenada pela Delegacia de Ribeirão Cascalheira (MT), a ação mobilizou forças de segurança de quatro estados e resultou no cumprimento de 12 mandados de busca e apreensão. Os alvos são duas empresas organizadoras de concursos públicos, supostamente controladas por membros da mesma família. As investigações apontam que as companhias atuavam de forma coordenada para vencer licitações, elaborar editais em tempo recorde e manipular resultados, violando princípios de isonomia e transparência que devem nortear o serviço público.

Embora os nomes das bancas não tenham sido oficialmente divulgados pelas autoridades, apurações preliminares indicam supostamente que a Ibrasp Concursos está envolvida em pelo menos três dos editais investigados: nas prefeituras de Ribeirão Cascalheira, Gaúcha do Norte e Jaciara, todos municípios de Mato Grosso.

Veja a publicação da Polícia Civil:

Denúncias e irregularidades

A origem da investigação foi uma denúncia formalizada pela Unidade de Controle Interno da Prefeitura de Ribeirão Cascalheira, que detectou diversas falhas no Concurso Público nº 01/2024. Entre os pontos críticos apontados estão:

  • Processo licitatório com indícios de direcionamento;
  • Execução do certame em prazo considerado ilegalmente curto;
  • Contratação da banca por dispensa de licitação, sem justificativas plausíveis;
  • Aprovação suspeita de candidatos ligados ao poder público municipal.

Além disso, os investigadores identificaram que as provas aplicadas por essas empresas compartilhavam questões idênticas, levantando fortes indícios de que havia um banco de dados comum sendo utilizado de forma irregular. Essa prática compromete a integridade das avaliações e favorece quem tem acesso privilegiado ao conteúdo.

Empresas fantasmas

Outro ponto alarmante revelado pela polícia é a falta de estrutura física e técnica das empresas investigadas. De acordo com o delegado municipal Diogo Jobane Neto, não há registros de empregados, endereços físicos funcionam como fachada para outras empresas e não há identificação dos responsáveis técnicos pelas provas. "Tudo isso levanta sérias dúvidas sobre a idoneidade e a capacidade operacional dessas organizadoras", afirmou o delegado.

Histórico de denúncias

Não é a primeira vez que as empresas investigadas aparecem em denúncias relacionadas a licitações suspeitas e concursos polêmicos. Em Caiapônia (GO), no ano de 2020, foi registrado um boletim de ocorrência relatando tentativa de suborno por parte de uma das bancas, que teria oferecido dinheiro para que concorrentes desistissem da licitação. Já em Gaúcha do Norte (MT), em 2021, a aplicação da prova para o cargo de Auditor Interno gerou confusão e questionamentos sobre a validade do certame. O concurso de Jaciara (MT), também realizado em 2021, teve o processo licitatório supostamente direcionado para uma das empresas da família investigada.

Esses episódios revelam um padrão de atuação preocupante, com práticas que incluem desde o favorecimento de candidatos próximos a autoridades locais até tentativas de eliminação de concorrência nas licitações públicas. O modus operandi descrito nos autos indica um esquema de manipulação sistêmica, que pode ter afetado centenas de candidatos em diversas cidades brasileiras.

Próximos passos

A operação conta com o apoio do Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (DRACCO) do Mato Grosso do Sul, da Delegacia Estadual de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO) de Goiás e do Centro de Operações Policiais Especiais (COPE) do Paraná.

As provas colhidas, incluindo documentos, equipamentos eletrônicos e depoimentos, serão analisadas pelas autoridades responsáveis. Se as irregularidades forem comprovadas, os envolvidos poderão ser responsabilizados por diversos crimes, incluindo manipulação de processos licitatórios, formação de quadrilha, falsificação de documentos e atos de corrupção, tanto ativa quanto passiva.