O Rio Grande do Sul oficializou, na terça-feira (11), a criação do Programa Família Gaúcha, programa de transferência de renda voltada a famílias pobres. O projeto de lei, encaminhado pelo governo estadual por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), foi aprovado pela Assembleia Legislativa com 42 votos favoráveis e apenas três contrários.

Com investimento estimado em R$ 120 milhões, provenientes do Fundo de Reconstrução do Rio Grande do Sul (Funrigs), o programa prevê o pagamento de até R$ 250 mensais por núcleo familiar, durante 22 meses. O repasse será feito por meio do Cartão Cidadão, e as famílias contempladas receberão acompanhamento técnico contínuo por parte dos Agentes de Desenvolvimento da Família (ADF).

O que é o programa

O Família Gaúcha não se limita à transferência de renda. A proposta é promover autonomia financeira e inclusão socioprodutiva, garantindo que o auxílio funcione como uma "porta de saída" para a pobreza. Segundo o secretário de Desenvolvimento Social, Beto Fantinel (MDB), a iniciativa foi desenhada para fortalecer o papel das políticas públicas no enfrentamento das desigualdades.

"Mais do que um apoio financeiro, o Família Gaúcha representa uma oportunidade de emancipação. Cada família terá um plano de acompanhamento com metas voltadas à educação, ao trabalho e ao fortalecimento da autonomia", destacou Fantinel.

O programa contará com o apoio técnico da Unesco e foi construído com base em experiências bem-sucedidas de outros estados e países, mas com inovações metodológicas que priorizam o acompanhamento individualizado das famílias.

Como será o funcionamento do programa

A transferência de renda será temporária e terá duração de até 22 meses, período em que as famílias serão acompanhadas por agentes sociais e participarão de atividades voltadas ao desenvolvimento pessoal, profissional e educacional.

As famílias beneficiárias serão escolhidas entre as que vivem nos 92 municípios participantes (veja lista abaixo), com base no Índice de Vulnerabilidade das Famílias (IVF/RS), ferramenta que identifica aquelas em situação de maior risco social e econômico.

Além do auxílio financeiro, o programa prevê visitas domiciliares regulares, monitoramento do progresso familiar e oferta de capacitação profissional, com o objetivo de ajudar os beneficiários a alcançarem independência econômica.

Os resultados serão monitorados por meio de relatórios semestrais, que deverão informar o número de famílias beneficiadas e o valor total transferido.

Críticas e debate político

Apesar da aprovação ampla, o projeto gerou debates acalorados na Assembleia. Deputados da oposição, tanto de esquerda quanto de direita, levantaram questionamentos sobre a estrutura e os objetivos da proposta.

Parlamentares do PT argumentaram que o programa ainda "não está maduro", citando baixa cobertura e alcance limitado. Já o deputado Felipe Camozzato (Novo) classificou o Família Gaúcha como uma iniciativa de "marketing político", alegando que o Estado deveria priorizar políticas que incentivem a empregabilidade, em vez de ampliar o número de programas assistenciais.

Camozzato também criticou o uso de parte dos recursos para custear a estrutura administrativa do projeto, sugerindo que haveria indicações políticas nas contratações.

Em resposta, o secretário Beto Fantinel esclareceu que todos os profissionais envolvidos na execução do programa foram selecionados pelo CIEE, por meio de um processo técnico e transparente, e reforçou que a meta do governo é garantir que cada família atendida seja acompanhada antes, durante e depois da vigência do benefício.

O líder do governo na Casa, Frederico Antunes (PP), comemorou a aprovação e afirmou que o Família Gaúcha está sendo usado como modelo por outros estados, como São Paulo.

Critérios para receber o benefício

Para ter direito ao Família Gaúcha, as famílias deverão:

  • Estar inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais;
  • Residir em um dos 92 municípios participantes;
  • Apresentar baixo Índice de Vulnerabilidade Familiar (IVF/RS);
  • Cumprir as condicionalidades de acompanhamento social, educacional e de saúde;
  • Participar das ações de acompanhamento conduzidas pelos Agentes de Desenvolvimento da Família.

Cada núcleo familiar receberá até R$ 250 mensais.

A previsão é que os pagamentos sejam iniciados ainda no primeiro semestre de 2026, após a conclusão da seleção das famílias e da emissão dos Cartões Cidadão.

Municípios contemplados

O programa contemplará 92 cidades, incluindo:

  • 1. Agudo
  • 2. Alegrete
  • 3. Alegria
  • 4. Alvorada
  • 5. Arambaré
  • 6. Arroio do Meio
  • 7. Arroio do Tigre
  • 8. Arroio dos Ratos
  • 9. Bagé
  • 10. Barão do Triunfo
  • 11. Bom Retiro do Sul
  • 12. Boqueirão do Leão
  • 13. Cachoeira do Sul
  • 14. Camaquã
  • 15. Campo Bom
  • 16. Candelária
  • 17. Canoas
  • 18. Capela de Santana
  • 19. Cerrito
  • 20. Cerro Branco
  • 21. Charqueadas
  • 22. Cruz Alta
  • 23. Cruzeiro do Sul
  • 24. Dezesseis de Novembro
  • 25. Dona Francisca
  • 26. Eldorado do Sul
  • 27. Encantado
  • 28. Engenho Velho
  • 29. Erechim
  • 30. Esperança do Sul
  • 31. Esteio
  • 32. Estrela
  • 33. Estrela Velha
  • 34. Faxinal do Soturno
  • 35. Feliz
  • 36. Fontoura Xavier
  • 37. General Câmara
  • 38. Gravataí
  • 39. Guaíba
  • 40. Horizontina
  • 41. Ibarama
  • 42. Igrejinha
  • 43. Ijuí
  • 44. Iraí
  • 45. Itaara
  • 46. Jaguari
  • 47. Lagoão
  • 48. Maçambará
  • 49. Montenegro
  • 50. Muitos Capões
  • 51. Nova Palma
  • 52. Nova Santa Rita
  • 53. Novo Hamburgo
  • 54. Palmares do Sul
  • 55. Paraíso do Sul
  • 56. Parobé
  • 57. Passo do Sobrado
  • 58. Pelotas
  • 59. Pinhal Grande
  • 60. Porto Alegre
  • 61. Quevedos
  • 62. Restinga Seca
  • 63. Rio Grande
  • 64. Rio Pardo
  • 65. Roca Sales
  • 66. Rolante
  • 67. Santa Cruz do Sul
  • 68. Santa Maria
  • 69. Santa Rosa
  • 70. Santana do Livramento
  • 71. São Borja
  • 72. São Gabriel
  • 73. São Jerônimo
  • 74. São José do Norte
  • 75. São Leopoldo
  • 76. São Martinho da Serra
  • 77. São Nicolau
  • 78. São Sebastião do Caí
  • 79. Sapiranga
  • 80. Sapucaia do Sul
  • 81. Segredo
  • 82. Tabaí
  • 83. Taquara
  • 84. Três Coroas
  • 85. Três Forquilhas
  • 86. Triunfo
  • 87. Uruguaiana
  • 88. Vale Verde
  • 89. Vera Cruz
  • 90. Veranópolis
  • 91. Viamão
  • 92. Vila Nova do Sul

As localidades foram selecionadas com base em critérios socioeconômicos e em dados do Cadastro Único e do IVF/RS, priorizando regiões com maior concentração de pobreza e vulnerabilidade social.

Acompanhamento e avaliação das famílias

Um dos diferenciais do Família Gaúcha é o foco em resultados mensuráveis. Cada família receberá um "tabuleiro de progresso", ferramenta lúdica e pedagógica que permitirá visualizar o avanço nas metas de educação, renda e autonomia.

Os Agentes de Desenvolvimento da Família (ADF) serão responsáveis por preencher o tabuleiro nas visitas domiciliares, atualizando o histórico de evolução de cada beneficiário. A ideia é estimular a corresponsabilidade das famílias no processo de superação da pobreza.