A aplicação do Enem 2025, já marcada por debates sobre segurança e sigilo, ganhou um novo capítulo após o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) confirmar a anulação de três questões do exame.

A decisão, anunciada nesta semana, foi tomada depois que a equipe técnica identificou, nas redes sociais, vídeos que exibiam perguntas muito próximas das que apareceram na prova oficial. O movimento gerou preocupação entre candidatos, educadores e autoridades, levantando suspeitas sobre a integridade do exame.

Entenda o caso

A polêmica teve início quando começaram a circular, entre grupos de estudantes, trechos de uma live do professor e estudante de medicina Edcley Teixeira, que divulgou conteúdos extremamente semelhantes aos do segundo dia de provas.

O vídeo foi transmitido cinco dias antes da aplicação e incluía explicações detalhadas de questões que, posteriormente, apareceram quase idênticas nos cadernos do Enem. Embora nenhuma delas tenha sido reproduzida de forma absolutamente igual, o Inep classificou as coincidências como "similaridades pontuais relevantes".

Diante da repercussão, a Polícia Federal foi acionada para investigar a origem e a natureza da divulgação. O Inep solicitou que sejam apuradas eventuais violações de sigilo, má-fé ou uso indevido de material confidencial.

As autoridades trabalham com a hipótese de quebra de segurança, mas também avaliam se houve apenas coincidência derivada de métodos de estudo e análises estatísticas, como alega o responsável pelo vídeo.

Nas redes sociais, internautas estão subindo a hagtag #anulaenem, devido ao fato de Edcley Teixeira ter divulgado as respostas durante um curso preparatório. Veja algumas postagens:

O que diz o professor investigado

Edcley Teixeira, que oferece serviços de consultoria e preparação para vestibulares, afirma que apenas "previu" as questões por meio de técnicas próprias, negando qualquer acesso privilegiado ao conteúdo do exame.

Segundo ele, sua estratégia consiste em analisar padrões de elaboração do Enem e estudar profundamente provas anteriores e pré-testes usados pelo Inep.

Uma das justificativas apresentadas por Teixeira é de que ele memorizou itens do Prêmio CAPES Talento Universitário, avaliação aplicada para estudantes de graduação e que, segundo sua versão, serviu como base para a formulação de questões futuras do Enem.

Ele afirma ter decorado diversas perguntas e repassado versões semelhantes aos seus alunos, o que explicaria a proximidade com o exame de 2025. O Inep, no entanto, negou qualquer vínculo entre o Prêmio CAPES e a construção do banco de itens do Enem.

A versão ganhou novos desdobramentos quando ex-colegas e ex-alunos afirmaram que o professor incentivava candidatos a participarem do prêmio e memorizarem suas perguntas, alimentando a ideia de que a prova serviria como "prévia" para o Enem.

Apesar disso, especialistas ouvidos pela imprensa afirmam que não há confirmação de que itens do Talento Universitário integrem o banco de questões do exame nacional.

Teixeira também afirmou nas redes sociais que consegue antecipar temas com base no estudo de artigos publicados por elaboradores do Inep, em chamadas públicas e em padrões observados ao longo de mais de dez anos de acompanhamento do exame. Em um dos vídeos, chegou a declarar: "Eu descobri o padrão. O Enem inteiro é repetido. Sei no que os elaboradores estão pensando".

Ação do Inep e impacto para os candidatos

O Inep, ao tomar conhecimento das denúncias, iniciou uma investigação interna e determinou a anulação de três questões consideradas comprometidas. Em nota oficial, reforçou que as provas do Enem seguem protocolos rígidos de sigilo e que não foram encontradas evidências de vazamento integral da avaliação.

A anulação, segundo o instituto, tem como objetivo preservar a isonomia entre os participantes e evitar qualquer prejuízo ou favorecimento indevido. Veja o comunicado do INEP:

Créditos: Divulgação/INEP

A decisão impacta diretamente a correção da prova, uma vez que a Teoria de Resposta ao Item (TRI), método usado no Enem, recalibra o peso de cada questão conforme o desempenho coletivo. Quando um item é anulado, ele deixa de influenciar a nota final, sendo simplesmente desconsiderado no cálculo.

O Ministério da Educação também se pronunciou. O ministro Camilo Santana afirmou que a medida demonstra o compromisso do governo federal com a integridade do exame e que qualquer suspeita envolvendo o Enem deve ser tratada com rigor. Segundo ele, "a lisura e a segurança do processo são inegociáveis".

Como começou a suspeita de vazamento

Os rumores ganharam força na noite de segunda-feira, 17, quando começaram a circular comparações entre o material divulgado na live e perguntas aplicadas no domingo, 16, dia dedicado às provas de matemática e ciências da natureza.

Screenshots e recortes de vídeo rapidamente viralizaram, gerando forte pressão de estudantes e cursinhos, que cobraram uma posição do Inep.

Além das questões abordadas na live, apostilas produzidas por Teixeira para seus alunos também apresentavam enunciados semelhantes a um sexto item, relacionado ao tema de tijolos, o que aumentou ainda mais as suspeitas.

Polícia investiga

As investigações da Polícia Federal seguem em andamento, e o Inep informou que colaborará com as autoridades. Caso seja comprovado algum tipo de vazamento, os responsáveis poderão responder criminalmente.

Apesar da polêmica, o cronograma do Enem permanece sem alterações. O resultado final está mantido para janeiro de 2026, como previsto originalmente.

Gabarito será antecipado

A divulgação dos gabaritos oficiais estava prevista inicialmente para quinta-feira, 20. No entanto, devido à repercussão, o Inep antecipou a publicação para as 10h desta quarta-feira, 19, incluindo os cadernos de questões com indicação das três anuladas pela página do participante do INEP.