Na última quarta-feira (28), o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou os primeiros dados do Censo 2022, revelando uma surpreendente informação: a população brasileira é de 203.062.512 habitantes, cerca de 5 milhões abaixo da estimativa anterior do órgão, que era de 207,7 milhões. Além disso, os dados revelam uma transição demográfica em andamento.

Atualmente, o Brasil possui mais pessoas economicamente ativas do que crianças e aposentados, mas no futuro enfrentará um cenário com uma força de trabalho reduzida e uma proporção maior de idosos, o que vai agravar ainda mais o cálculo da Previdência Social.

Segundo Suzana Cavenaghi, doutora em demografia pela Universidade do Texas (EUA) e ex-coordenadora, professora e pesquisadora da pós-graduação da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, o Brasil tem desempenhado um papel insatisfatório em suas últimas décadas de bônus demográfico, que é o período em que um país possui mais pessoas em idade ativa e produtiva do que idosos e crianças.

O que é bônus demográfico. Este fenômeno ocorre quando a proporção de pessoas em idade ativa (15 a 64 anos) em uma população é maior do que a proporção de pessoas em idades não produtivas (menores de 15 anos e maiores de 64 anos).

O que é bônus demográfico

Em entrevista ao Podcast ‘O Assunto’ desta quinta, 29, Suzana disse:

"Este bônus demográfico, que é o período onde a gente tem o meio da pirâmide etária, as pessoas em idade produtiva alcançando o seu máximo produtivo, potencial de trabalho, a gente não aproveitou. Se passarmos a ser um país envelhecido antes do país dar aquele salto para o país de renda média ou renda alta, nunca mais a gente vai conseguir isso, porque aí não vai ter a força de trabalho suficiente para poder dar esse salto."

De acordo com Suzana Cavenaghi, essa oportunidade não foi aproveitada por dois motivos. Primeiro, muitas pessoas não foram inseridas adequadamente no mercado de trabalho, e quando foram, não obtiveram empregos formais e bem remunerados. Além disso, o país não investiu o suficiente em educação para fornecer a capacitação necessária a essa população.

Como corrigir o problema?

A solução agora é agir rapidamente e se espelhar em casos de sucesso internacional, como os dos tigres asiáticos, que souberam aproveitar essa fase. Para Suzana, ainda há tempo para corrigir esse problema, mas é necessário agir logo. Desta forma, as políticas públicas precisam se concentrar fortemente na área da educação, proporcionando uma formação profissional adequada e garantindo acesso adequado à saúde, para que a população brasileira tenha condições de viver uma vida saudável.

Cavenaghi enfatiza que esse é um desafio não apenas para o Brasil, mas também para grande parte da América Latina, e que exemplos positivos podem ser encontrados em outros países.

"A Coreia do Sul, por exemplo, percebeu a diminuição da taxa de fecundidade e a necessidade de agir para não perder essa oportunidade. Eles investiram massivamente em educação de qualidade para toda a população. Hoje, a Coreia do Sul é um exemplo de país com um sistema educacional bem-sucedido."

Com mais pessoas idosas e menor público em idade ativa, a Previdência Social precisará se reformular mais uma vez para não aumentar o déficit, já existente hoje, com os mais de 37 milhões de aposentados inscritos no INSS que recebem o benefício mensal.