Durante os anos de 1970, os médicos se depararam com uma situação curiosa nas emergências cardiovasculares: Cada vez mais seus pacientes eram homens de 40 a 50 anos, bem sucedidos em suas carreiras, mas que relutavam em cuidar do corpo. Abuso de álcool, comidas gordurosas, excessiva carga de trabalho e sedentarismo colocavam esses homens em uma situação de risco muitas vezes superior a outros grupos de trabalhadores.

A partir dessa constatação, houve uma imensa campanha para combater esse estilo de vida. Hoje, 40 anos depois, vemos em todos os lugares homens e mulheres praticando esportes, tomando seus copos de suco e preocupadíssimos com IMC, Índice de gordura corporal, circunferência abdominal, etc. Sem dúvida, hoje podemos afirmar que há uma consciência social sobre a importância da prevenção para a constituição de uma boa saúde física. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde alerta que, nos últimos 20 anos, um contingente crescente de trabalhadores vêm se afastando de seus locais de trabalho em razão de doenças psiquiátricas, em especial aquelas mais próximas do espectro depressivo. Curiosamente, nestas últimas duas décadas, nunca se avançou tanto na pesquisa e oferecimento de novas drogas eficazes para o combate a esses males. Portanto, o questionamento que os profissionais de saúde têm sustentado hoje é: se o cuidado do corpo é prática comum entre grande parte da população economicamente ativa, como atuar para que a saúde mental dessa população também seja?

Uma luz sobre a questão foi apontada pelo psicólogo americano Martin P. Seligman. Estudioso da psicologia positiva, o professor Seligman revelou em seus estudos que o ponto mais alto de satisfação que uma pessoa pode alcançar é denominado "Flow". O momento de "Flow" é alcançado quando um sujeito atua em absoluta harmonia com suas forças e virtudes pessoais, canalizadas ecologicamente ao meio ambiente. Nesse momento de atuação perfeita, o sujeito "flui". Trata-se do instante em que simplesmente fazemos o que sabemos fazer melhor, executamos tarefas árduas sem ver o tempo passar, cumprimos metas sem sentir dor e, ao final do instante de "Flow", temos a certeza da produção de um resultado excepcional. Infelizmente, falar em "Flow" próximo a alguns conhecidos nossos é uma ofensa. Muitos sujeitos jamais se sentiram em "Flow" em suas carreiras e acreditam que jamais conseguirão. Reclamam insistentemente do seu trabalho, do chefe, das tarefas que devem fazer, e contam nos dedos os anos, meses e dias que faltam para a aposentadoria.

Este tem sido um dos maiores problemas que os gestores da área pública vêm enfrentando. Apesar do ingresso de candidatos extremamente competentes e bem selecionados, há um crescente contingente de funcionários públicos desestimulados e performando muito abaixo de suas capacidades plenas. Nesses casos, o benefício da estabilidade se torna uma penitência: o sujeito está preso à sua carreira e tornou-se um escravo da renda, da rotina e do status conquistado com a aprovação em um concurso.Para evitar essa situação, o processo docoaching para concursos revela ao cliente quais são as suas principais virtudes, valores e ideais de trabalho. Juntamente com seu coach, o cliente busca o maior número de informações possíveis sobre a carreira desejada e verifica se essa escolha aproxima-se dos seus desejos mais verdadeiros de atuação profissional, não levando apenas em consideração critérios como salário, título ou carga horário de trabalho.

Para uma escolha saudável e duradoura é preciso investigar se a carreira desejada proporcionará ao sujeito momentos de "Flow". Caso contrário, todo o processo de coaching estará comprometido, mesmo que o sujeito alcance a aprovação desejada. Não trabalhamos apenas para que os candidatos sejam aprovados em concursos públicos. Desejamos a verdadeira felicidade do sujeito no mundo do trabalho, através do ingresso em uma carreira pública repleta de sentido, satisfação e "Flow".

Flávio Ribeiro de Paiva é Psicólogo formado pela UFRGS, Personal e Professional Coach pelo Behavioral Coaching Institute - New York, através da Sociedade Brasileira de Coaching - São Paulo. Está vinculado a outros grandes institutos de Coaching e Desenvolvimento humano no Brasil e no exterior e possui larga experiência pessoal de sucesso em provas e concursos de diversos órgãos, como Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, TRF-4 e Polícia Rodoviária Federal.