Fazer pós-graduação stricto sensu no Brasil hoje significa investimento, especialmente de dinheiro e de tempo. Há uma grande variedade de programas de pós-graduação com diferentes avaliações da Capes, diferentes projetos de ensino e, claro, diferentes mensalidades.

Essas opções vão desde as totalmente gratuitas, como é o caso das universidades públicas, até programas que podem custar mais de R$ 125 mil em instituições privadas renomadas.

Veja abaixo quanto custa e entenda quais são as opções de bolsas e de financiamentos disponíveis pra ajudar com as despesas.

Universidades públicas: educação gratuita de qualidade

Todas as universidades públicas federais e estaduais oferecem programas de mestrado e doutorado completamente gratuitos. A USP, por exemplo, é clara ao informar que "todos os cursos de pós-graduação stricto sensu da Universidade de São Paulo são gratuitos para o aluno", não havendo taxa de matrícula ou mensalidade.

Além da gratuidade, estudantes aprovados têm direito a se candidatar às bolsas de estudo oferecidas pela CAPES e CNPq. Os valores atuais das bolsas são de R$ 2.100 para mestrado e R$ 3.100 para doutorado, valores que foram reajustados em 2023 após uma década sem correção.

O governo federal oferece ainda programas específicos como o ProEB, que disponibiliza 7.8 mil vagas gratuitas de mestrado e doutorado profissionais especificamente para professores da rede pública de educação básica.

Universidades privadas: investimento significativo

O cenário nas instituições privadas é bem diferente. Os custos variam dramaticamente dependendo da instituição e área de especialização:

Instituições tradicionais com altos custos

A FGV Direito exemplifica o segmento premium, cobrando R$ 86.660 à vista ou 24 parcelas de R$ 4.492 para o mestrado. A PUC-Rio apresenta valores ainda mais elevados para 2025, com mensalidades que variam conforme o centro de estudos:

  • Centro de Teologia e Ciências Humanas: R$ 330/mês por crédito (disciplinas) e R$ 2.672/mês (dissertação/tese)
  • Centro Técnico Científico: R$ 399/mês por crédito e R$ 3.362/mês (dissertação/tese)

Opções Intermediárias

Já a PUCRS, por exemplo, oferece valores mais acessíveis, com mensalidades organizadas em grupos:

  • Grupo I (Educação, História, Letras): R$ 2.063/mês
  • Grupo II (Comunicação, Psicologia): R$ 2.751/mês
  • Grupo III (Administração, Engenharias): R$ 3.438/mês

A Unicesumar apresenta valores médios, considerando informações divulgadas em 2024:

  • Mestrado: R$ 2.902 (pagamento antecipado) ou R$ 3.120 (pagamento normal)
  • Doutorado: R$ 3.398 (pagamento antecipado) ou R$ 3.576 (pagamento normal)

Alternativas mais acessíveis

Algumas instituições oferecem opções mais econômicas, como a Acesso Educacional, com valores fixos de R$ 550 mensais para mestrado e R$ 610 para doutorado. Instituições que oferecem cursos EAD ou semipresenciais frequentemente praticam valores ainda menores, com mensalidades a partir de R$ 150.

Custo total e duração dos cursos

Considerando a duração típica dos programas, o investimento total varia significativamente:

  • Mestrado: 24 meses (R$ 14.000 a R$ 125.000 total)
  • Doutorado: 48 meses (valores proporcionalmente maiores)

Custos adicionais além da mensalidade

Fazer mestrado ou doutorado no Brasil envolve despesas que vão muito além das mensalidades ou da simples isenção das instituições públicas. Mesmo estudantes com bolsas integrais precisam se preparar financeiramente para uma série de custos adicionais que podem impactar significativamente o orçamento durante os dois a quatro anos de pós-graduação.

Essas dispesas começam com o custo de vida básico:

  • Moradia: Para estudantes que precisam se mudar para estudar, o aluguel representa uma das maiores despesas. Os valores variam enormemente conforme a cidade e proximidade da universidade.
  • Alimentação: Nas universidades públicas há a opção do Restaurante Universitário (RU), que oferece refeições subsidiadas por valores simbólicos. Na UFSC, por exemplo, o valor é de R$ 1,50 por refeição para estudantes. Na USP, o bandejão custa R$ 1,50 por refeição, totalizando cerca de R$ 4,50 por dia para três refeições. Mas para quem não tem acesso ao restaurante universitário ou precisa fazer refeições fora, o gasto mensal pode variar entre R$ 600 e R$ 1.200. Restaurantes próximos aos campi cobram entre R$ 20 e R$ 40 por refeição.
  • Transporte: Passagens de ônibus custam em média R$ 5,00 por trajeto. O gasto mensal pode chegar a R$ 200-300 para quem mora distante do campus. Há ainda aqueles estudates que se deslocam de uma cidade para outra, o que pode encarecer ainda mais os custos. ​Além disso, é importante considerar a necessidade ocasional do uso de aplicativos de transporte para deslocamentos noturnos ou emergenciais.

Além disso, todo pós-graduando também deve considerar custos para a participação em eventos acadêmicos, porque a apresentação de trabalhos em congressos, seminários e conferências é parte essencial da formação acadêmica. Veja o que prever no orçamento:

  • Taxas de Inscrição: As taxas de inscrição em eventos científicos variam amplamente pondendo ser entre R$ 20 a R$ 500​ no caso dos eventos nacionais, e de mais de R$ 1 mil para eventos internacionais.
  • Passagem: depois da pandemia muitos eventos acadêmicos passaram a adotar o sistema hibrido, ou seja, presencial e online, no entanto, também há muitos eventos que exigem a participação presencial e esse é o mais recomendado, para que o aluno tenha um melhor aproveitamento do evento. Por isso, é importante considerar as despesas de deslocamento, como passagem de avião, que pode variar de R$ 200 a mais de R$ 1 mil ou de ônibus, em alguns casos, ficando também entre R$ 80 e R$ 500.
  • Hospedagem: eventos acadêmicos costumam ter durações de, pelo menos, dois dias, podendo durar até uma semana, por isso, é preciso considerar hospedagem. Existem opções de todos os níveis, desde hoteis e pousadas, até pensões para estudantes, passando por opções de locação temporária como o Airbnb, por exemplo. Os custos variam bastante, indo de R$ 80 a R$500 diária, em média.
  • Alimentação: assim como no dia a dia, o estudante terá que se alimentar durante o evento e precisa considerar gastos com restaurantes e lancherias nesse período.
  • Locomoção: o mesmo vale para os deslocamentos que possivelmente serão feitos com transporte por aplicativo ou de ônibus/metrô.

Vale lembrar, porém, que a CAPES oferece o PROAP para cobrir despesas de participação em eventos científicos, cobrindo questões como:​

  • Taxa de inscrição até R$ 400-500 por evento
  • Passagens (ida e volta)
  • Hospedagem
  • Alimentação
  • Locomoção urbana

Para ter direito, o aluno deve estar regularmente matriculado e deve obrigatóriamente apresentar trabalho no evento em questão (apenas ouvintes não são contemplados). Além disso, a cobertura é para, no máximo, 3 dias consecutivos para eventos nacionais​ e tem um limite de uma solicitação por ano em alguns programas. A solicitação deve ser feita com antecedência mínima de 20-30 dias.

Os candidatos a mestrado e doutorado devem considerar também gastos com materiais didáticos, como:

  • Livros e periódicos: mestrandos e doutorandos precisam adquirir bibliografia especializada que nem sempre está disponível nas bibliotecas universitárias. Livros técnicos e científicos podem custar entre R$ 80 e R$ 300 cada.
  • Acesso a artigos científicos: embora as universidades ofereçam acesso ao Portal de Periódicos CAPES, eventualmente pode ser necessário adquirir artigos não cobertos pelas assinaturas institucionais, com valores variando entre US$ 30 e US$ 50 por artigo.
  • Equipamentos e softwares: Um notebook adequado para pesquisa acadêmica custa entre R$ 3.000 e R$ 6.000. Periféricos como impressora, pen-drives e HD externo podem adicionar R$ 500 a R$ 1.000. Além disso, muitos programas de pós-graduação exigem softwares estatísticos e de análise como o SPSS (Statistical Package for Social Sciences) ou o MATLAB. Algumas universidades oferecem acesso gratuito através de licenças institucionais para a comunidade acadêmica. Para uso pessoal, o custo comercial pode ser elevado.
  • Equipamentos de laboratório: para pesquisas experimentais, podem surgir custos com o uso de equipamentos multiusuários, que podem custar de R$ 10 a R$ 120 por período, dependendo do porte do equipamento, além de material de consumo como reagentes, vidrarias, insumos específicos.

Bolsistas de doutorado CNPq recebem R$ 472,80 de taxa de bancada, cujo uso deve ser especificamente para manutenção e melhorias da pesquisa. Esse valor pode ser usado para compra de material de consumo, insumos para pesquisa, material bibliográfico, visitas técnicas, participação em congressos, passagens aéreas/terrestres, equipamentos (computador, notebook, pen-drives) e combustível para pesquisa de campo.

    O mestrando ou doutorando também precisa considerara a necessidade eventual de tradução, formatação e revisão de textos, especialmente para publicações internacionais e participação em eventos no exterior.

    • Revisão de textos em Inglês: custam em média R$ 0,19 por palavra, assim, um artigo com 5.000 palavras custaria cerca de R$ 950 para revisão profissional.
    • Tradução: custa um pouco mais, de R$ 0,20 a R$ 0,45 por palavra, em média, assim, traduzir um artigo de 5.000 palavras do português para o inglês custaria entre R$ 1.750 e R$ 2.250.
    • Revisão de dissertações e teses: as bancas de defesa de dissertações e teses costumam cobrar a entrega dos trabalhos finais do curso com todo o texto muito bem escrito e de acordo com normas específicas - no Brasil, normalmente são utilizadas as normas ABNT​ - e por isso, é importante que o texto passe pelas mãos de um revisor, oq eu pode ser bem caro. Revisores e formatadores costumam cobrar por página ou lauda, valores que vão entre R$ 5 a 12 a lauda/página. Assim, um trabalho de 250 páginas pode custar até R$ 3 mil para ser revisado e formatado.

    Outro ponto a ser onsiderado são os exames de proficiência em língua estrangeira. A maioria dos programas de pós-graduação exige comprovação de proficiência em idioma estrangeiro para ingresso ou qualificação. Algumas das opções são:

    • TOEFL (Test of English as Foreign Language): custa cerca de R$ 1,3 mil.
    • IELTS (International English Language Testing System): varia conforme o aplicador, mas é semelhante ao TOEFL
    • Cambridge: essa certificação também custa cerca de R$ 1,3 mil, com a vantagem de ser vitalícia, enquanto outras proficiências duram entre 2 a 5 anos.
    • Alternativas institucionais: algumas universidades oferecem testes de proficiência próprios, como o PROFIC aplicado pela Cultura Inglesa, com nota mínima de 50 para mestrado e 60 para doutorado.

    Essas são as principais despesas que um estudante de pós-graduação pode ter, no entanto, há ainda outras, mais eventuais, como gastos com documetação e taxas acadêmicas (histórico escolar, declarações diversas), filiação em sociedades científicas da área (podem custar entre R$ 100 e R$ 500 anuais, mas frequentemente oferece descontos em eventos e publicações), etc.

    Bolsas de estudo para instituições privadas

    Ao contrário do que muitos imaginam, estudantes de mestrado e doutorado em instituições privadas também têm acesso a diversas modalidades de bolsas de estudo que podem reduzir significativamente ou até eliminar completamente os custos da pós-graduação. Essas oportunidades vão desde programas governamentais até bolsas institucionais oferecidas pelas próprias universidades.

    Programas governamentais CAPES

    A CAPES mantém dois programas principais voltados especificamente para instituições privadas:

    PROSUP - Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares

    O PROSUP apoia discentes de programas de pós-graduação stricto sensu oferecidos por instituições particulares de ensino superior. Podem participar instituições privadas que mantêm programas aprovados pela CAPES com nota igual ou superior a 3.

    Modalidades e valores conforme definido pela PUC-SP:

    Modalidade I (integral):

    • Mestrado: R$ 2.100/mês (ajuda de custo) + R$ 1.100/mês (taxa escolar)
    • Doutorado: R$ 3.100/mês (ajuda de custo) + R$ 1.400/mês (taxa escolar)

    Modalidade II (parcial):

    • Mestrado: R$ 1.100/mês (apenas taxa escolar)
    • Doutorado: R$ 1.400/mês (apenas taxa escolar)

    PROSUC - Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições Comunitárias

    O PROSUC segue o mesmo modelo do PROSUP, mas destina-se exclusivamente às Instituições Comunitárias de Educação Superior (ICES), conforme Lei nº 12.881/2013. Instituições como PUC-RS, Unisinos, UniLasalle e Feevale participam deste programa.

    Os valores e modalidades são idênticos ao PROSUP:

    • Modalidade I: bolsa + taxa escolar
    • Modalidade II: apenas taxa escolar

    Como funciona: As bolsas são gerenciadas pelas Pró-Reitorias de Pós-Graduação das instituições. Os alunos interessados devem entrar em contato com a Pró-Reitoria de sua universidade e concorrer através de editais específicos abertos periodicamente. O beneficiário recebe o valor diretamente em sua conta bancária e deve repassar a taxa escolar à instituição.

    Bolsas CNPq para Instituições Privadas

    O CNPq também oferece bolsas para alunos de instituições privadas com valores atualizados:

    Mestrado:

    • Isenção integral das mensalidades
    • Ajuda de custo de R$ 2.100/mês

    Doutorado:

    • Isenção integral das mensalidades
    • Ajuda de custo de R$ 3.100/mês
    • R$ 472,80 de taxa de bancada (para manutenção e melhorias da pesquisa)

    Bolsas FAPESP

    Para instituições privadas localizadas no Estado de São Paulo, a FAPESP representa uma excelente alternativa. A fundação concede bolsas para alunos regularmente matriculados em programas de pós-graduação stricto sensu de instituições públicas ou privadas do estado.

    Algumas universidades privadas, como a PUC-SP, oferecem ainda desconto de 50% nas mensalidades para alunos contemplados com bolsa FAPESP, tornando o benefício ainda mais atraente. Em 2024, as mulheres representaram 56% das bolsas de mestrado e 53% das de doutorado concedidas pela FAPESP.

    Bolsas Institucionais

    Muitas universidades privadas mantêm programas próprios de bolsas e descontos:

    Universidade Presbiteriana Mackenzie

    O Mackenzie oferece isenção integral de mensalidades e taxas para os quatro primeiros classificados no processo seletivo de doutorado em todos os seus programas. Durante o curso, todos os alunos de mestrado e doutorado podem concorrer a bolsas CAPES, Mack Pesquisa e outras agências de fomento.

    PUC-RS

    A PUC-RS mantém o PRO-Stricto, programa institucional que concede bolsas parciais para mestrado e doutorado. A universidade também oferece descontos escalonados por área:

    • Grupo I (Educação, História, Letras): mensalidades de R$ 2.063
    • Até o Grupo III com valores de R$ 3.438

    Além disso, disponibiliza crédito educativo para os alunos que não conseguem bolsas.

    FGV

    Todos os alunos de mestrado acadêmico e doutorado acadêmico na FGV-EPGE são bolsistas, recebendo bolsas de mérito acadêmico ou bolsas sociais. Essa política garante que 100% dos alunos tenham algum tipo de auxílio financeiro.

    Feevale

    A Feevale oferece múltiplas modalidades de bolsas institucionais:

    • Bolsa Funcionário: 30% de desconto para funcionários técnico-administrativos
    • Bolsa Professor: 50% de desconto para docentes cursando mestrado e doutorado
    • Bolsas PROSUP/CAPES: integrais e parciais conforme cotas disponíveis

    Univates

    A Univates concede a Bolsa-desconto Mestre Egresso de 50% do valor das mensalidades para ex-alunos que cursaram mestrado na instituição e ingressam no doutorado, com a diferença parcelada em 48 meses.

    Bolsas de Agências Internacionais

    Algumas instituições internacionais também oferecem bolsas para programas em universidades privadas brasileiras:

    • FUNIBER (Fundação Universitária Iberoamericana) oferece bolsas de estudo internacionais parciais para mestrados, especializações e doutorados, com o percentual de auxílio definido por comissão de avaliação conforme o perfil do candidato.

    Opções de financiamento

    Outra opção, ainda, é utilizar algum tipo de financiamento estudantil para pagar a pós-graduação. Assim como há alternativas para a graduação, há também opções para o mestrado e doutorado. Veja só:

    FIES para Pós-Graduação

    Desde 2014, o FIES foi expandido para incluir cursos de mestrado e doutorado em instituições privadas, atendendo programas com nota mínima 3 na CAPES. O financiamento permite:

    • Início do pagamento 18 meses após a conclusão do curso
    • Prazo de até 3 vezes a duração do curso para quitação
    • Taxa de apenas R$ 150 a cada três meses durante o curso

    Outras Modalidades

    Além do FIES, estudantes podem recorrer a:

    • Financiamento próprio das instituições: algumas universidades oferecem programas internos com condições especiais
    • Financiamento bancário privado: bancos como Santander, Itaú, Caixa e Bradesco oferecem linhas específicas para educação
    • Bolsas parciais: algumas instituições privadas, como vimos acima, concedem descontos baseados no desempenho no processo seletivo

    Avaliação da qualidade: Sistema CAPES

    A qualidade dos programas é avaliada pela CAPES em escala de 1 a 7, sendo que:

    • Notas 6 e 7 indicam padrão internacional de excelência
    • A USP lidera com 114 programas de excelência, seguida pela UFRJ (41), UFMG (34) e Unicamp (33)
    • Programas com nota inferior a 3 perdem o reconhecimento

    Considere na hora de escolher

    A decisão entre instituição pública ou privada deve considerar:

    • Vantagens das públicas: gratuidade, qualidade reconhecida, possibilidade de bolsas, infraestrutura de pesquisa consolidada.
    • Vantagens das privadas: processos seletivos potencialmente menos concorridos, maior flexibilidade de horários, networking com profissionais do mercado.

    O mercado de trabalho reconhece o valor da pós-graduação stricto sensu, com profissionais com mestrado recebendo salários médios de R$ 5.645 e doutores R$ 6.605, representando aumentos de 150% a 255% em relação à graduação.

    A escolha ideal depende do perfil do candidato, área de interesse, disponibilidade financeira e objetivos profissionais. Independente da opção escolhida, o investimento em pós-graduação stricto sensu continua sendo reconhecido como fundamental para o desenvolvimento de carreiras de alto nível no Brasil.