O apoio financeiro à formação de mestres, doutores e pesquisadores é tema central no debate sobre ciência e inovação no Brasil. Mas afinal, quanto ganha um bolsista de mestrado, doutorado ou mesmo de pós-doutorado no país? Quais as principais diferenças em relação ao que é pago no exterior e quais são as condições e custos para cursar esses níveis de pós-graduação?

Nesta reportagem, detalhamos valores atuais, tipos de bolsas disponíveis, custos para estudar e oportunidades do pós-doutorado, traçando um panorama comparativo com experiências internacionais.

Valores das bolsas no Brasil: quanto ganham mestrandos e doutorandos

Os principais programas de bolsas no Brasil são geridos por órgãos federais como a CAPES e o CNPq, e pelas fundações estaduais de amparo à pesquisa, como a FAPESP (São Paulo) e a FAPEMIG (Minas Gerais).

Em 2025, após reajustes, os valores das bolsas federais base são:

  • Mestrado: R$ 2.100 por mês
  • Doutorado: R$ 3.100 por mês
  • Pós-doutorado: R$ 5.200 por mês

Esses valores são praticados pela CAPES e pelo CNPq em todo o território nacional, sendo a principal fonte de renda para estudantes que se dedicam integralmente à pós-graduação stricto sensu.​

Fundações estaduais, buscando reter talentos, oferecem bolsas maiores. Em Minas Gerais, por exemplo, a FAPEMIG elevou para R$ 3.000 o mestrado e R$ 4.500 o doutorado, a partir de julho de 2025, tornando-se referência entre as agências estaduais.​

Vale destacar que, em geral, as bolsas exigem dedicação exclusiva, proibindo muitos bolsistas de manterem emprego formal. Porém, desde 2025, o CNPq permitiu em alguns casos rendas complementares, desde que relacionadas à área de pesquisa do estudante.

Tipos de bolsas: federal, estadual e internacional

A diversidade de modalidades de bolsas no Brasil reflete a amplitude do sistema de pós-graduação:

  • Bolsas CAPES (PROEX, PROSUC): Destinadas a programas de pós-graduação com conceito elevado ou a instituições comunitárias.​
  • Bolsas CNPq/MCTI: Focam em formação de recursos humanos e pesquisa científica.
  • Bolsas estaduais (como FAPESP, FAPERJ, FAPEMIG): Destinadas a programas de excelência localizados nos respectivos estados.
  • Bolsas Sanduíche: Permitem intercâmbios temporários em universidades estrangeiras.
  • Bolsas de cooperação internacional (PRINT, PEC-PG): Fomentam a internacionalização, inclusive com foco em estudantes estrangeiros.​
  • Bolsas de inclusão e ações afirmativas: Visam ampliar acesso à pós-graduação para grupos sub-representados.

Quanto custa cursar mestrado e doutorado: públicos e privados

No Brasil, mestrado e doutorado em universidades públicas são gratuitos. Já em instituições privadas, os custos variam bastante:

  • Mensalidades médias ficam entre R$ 2.000 e R$ 4.000, dependendo do curso e da universidade.​
  • Bolsas integrais oferecidas nessas instituições são menos frequentes, exigindo do candidato destaque acadêmico, científico ou social.

Comparação internacional: quanto ganha um bolsista no exterior?

No exterior, bolsas costumam ser mais generosas e frequentemente incluem passagens, moradia e seguro saúde:

  • Estados Unidos: Programas como o Fulbright chegam a pagar US$ 1.500 a US$ 2.500 por mês, além de oferecer coberturas extras, de acordo com o custo de vida local.
  • Europa: Bolsas Erasmus Mundus, DAAD (Alemanha), Chevening (Reino Unido) e Fundação Carolina (Espanha) garantem entre €1.000 e €1.800 mensais, mais benefícios complementares.​
  • CAPES e CNPq também oferecem bolsas no exterior, em valores equivalentes a US$ 1.300-1.650 mensais para alunos em intercâmbio acadêmico ("sanduíche").​
  • A FAPESP reajustou as bolsas internacionais em 2025, acompanhando a inflação global, e paga valores similares aos principais programas internacionais.​

A diferença fundamental é que, em países ricos, a bolsa costuma cobrir 100% das necessidades do estudante, enquanto no Brasil o valor é considerado baixo para padrões de custo de vida das grandes capitais, embora essencial para garantir a dedicação exclusiva à pesquisa.

O pós-doutorado: valores e oportunidades

O pós-doutorado oferece a pesquisadores doutorados novos auxílios e oportunidades acadêmicas.

  • No Brasil, bolsas de pós-doutoramento chegam a R$ 5.200 mensais, tanto na CAPES como no CNPq.
  • Bolsistas de pós-doutorado podem acessar ainda auxílios para eventos, missões de pesquisa e, eventualmente, moradia ou auxílio deslocamento.​
  • No exterior, essas bolsas podem ultrapassar US$ 2.100 mensais e costumam ser atreladas a projetos de pesquisa internacionalmente competitivos, como os do Marie Curie Actions (União Europeia) e dos NIH (EUA).​

Outras opções incluem o programa Professor Visitante (CAPES/CNPq), que pode superar R$ 14 mil mensais, especialmente se o pesquisador tiver cargo de liderança em centros internacionais de pesquisa.

O que é um pós-doutorado?

O pós-doutorado, também conhecido como pós-doc, é um estágio acadêmico de pesquisa avançada realizado por profissionais que já possuem o título de doutor. Diferentemente do mestrado e do doutorado, o pós-doutorado não é um curso formal nem confere um novo título acadêmico. Na prática, trata-se de um período de aprimoramento científico, dedicado exclusivamente à pesquisa, sob a supervisão de um professor ou pesquisador mais experiente.

Quadro comparativo: valores atuais de bolsas

Modalidade Brasil (CAPES/CNPq) Fundações Estaduais Exterior (média)
Mestrado R$ 2.100​ R$ 3.000​ €1.000 / US$ 1.300​
Doutorado R$ 3.100​ R$ 4.500​ €1.300-1.800 / US$ 1.650​
Pós-doutorado R$ 5.200​ US$ 2.100​

Investir em ciência é investir no futuro

Apesar do cenário de subfinanciamento persistente no Brasil, as bolsas de pós-graduação representam a principal ferramenta para renovação e qualificação de quadros científicos nacionais.

Países mais ricos oferecem bolsas mais vantajosas, mas a solidez dos programas nacionais e estaduais continua a ser fundamental para o avanço da pesquisa.

Com os recentes reajustes e oportunidades de internacionalização, o sistema brasileiro mostra sinais de vitalidade e adaptação às demandas globais, mas o tema dos valores pagos e do custo de vida dos bolsistas seguirá central para a política científica e a competitividade acadêmica do país nos próximos anos.