Entrar em um programa de mestrado ou doutorado no Brasil é um processo seletivo rigoroso e competitivo, que exige preparação e organização. Diferente da graduação, cada programa de pós-graduação tem autonomia para definir seus próprios critérios de seleção, o que pode variar bastante entre instituições e até mesmo entre programas da mesma universidade.

Mas existem alguns requisitos básicos que costumam ser comuns para todos os processos:

  • Para o mestrado: o candidato precisa ter diploma de graduação reconhecido pelo MEC.
  • Para o doutorado: é geralmente necessário apresentar diploma de mestrado.

Quando e como se inscrever

Os processos seletivos costumam abrir em períodos específicos do ano, geralmente com inscrições concentradas entre os meses de agosto e outubro, para ingresso no ano seguinte.

As inscrições atualmente são feitas exclusivamente pela internet, mediante preenchimento de formulários e, em algumas instituições, especialmente as privadas, pode haver pagamento de taxa que varia bastante.

A dica é: faça uma busca pelos principais programas de pós-graduação de sua área. Selecione aqueles que lhe parecem mais interessantes (veja como fazer essa seleção abaixo) e fique de olho no site da universidade ou do programa para acompanhar a saída dos editais de seleção.

Como escolher o melhor programa pós-graduação?

Uma etapa muito importante da vida acadêmica é a escolha do programa de pós-graduação para o qual se vai tentar uma vaga, porque isso tem um grande impacto acadêmico e profissional, ou seja, escolher um bom programa pode fazer toda a diferença na sua carreira futuramente.

Começe procurando por programas de pós-graduação que lhe interessem de acordo com a sua área de formação na graduação. Em seguida, observe as linhas de pesquisa disponíveis de cada um deles e procure por aquela que mais lhe interessa ou faz sentido pra você.

O que é uma linha de pesquisa?

  • É um recorte temático institucional, estabelecido pelos programas de pós-graduação, que reúne pesquisadores e projetos com afinidades teóricas, metodológicas ou de objeto de estudo.

  • Exemplo: dentro da área de Ciências Sociais, uma linha pode ser "Políticas Públicas e Desigualdades Sociais" ou "Movimentos Sociais e Cidadania".

Verifique também quais professores atuam em cada linha e quais são suas produções recentes (faça uma busca no Google Scholar), para garantir afinidade temática e conferir as possibilidades de orientação.

A dica é: a maior parte dos programas disponibiliza uma lista de discentes, ou seja, de alunos. Você pode tentar entrar em contato com alguns deles e conversar sobre as experiências deles, tirar dúvidas sobre o programa, sobre a relação com os orientadores, etc.

Documentação exigida

A documentação básica inclui diploma de graduação (ou mestrado, no caso do doutorado), histórico escolar, CPF, RG, currículo Lattes atualizado e comprovante de pagamento da taxa de inscrição (se necessário). Para estrangeiros, é necessário apresentar passaporte ou RNE.

A dica é: leia atentamente ao edital de seleção pois todas essas informações - que podem variar de um programa para outro - estão disponíveis nesse documento.

As etapas do processo seletivo

Embora não exista padronização nacional, as etapas mais comuns são:

Apresentação do pré-projeto de pesquisa: esta é uma das etapas mais importantes. O candidato deve apresentar um projeto de pesquisa alinhado às linhas de pesquisa do programa e aos interesses de algum professor orientador. São avaliados critérios como relevância, originalidade, consistência teórica e viabilidade no prazo (30 meses para mestrado, 48 para doutorado).

A dica é: Antes de propor um projeto, leia atentamente a descrição das linhas de pesquisa do programa e, se possível, converse com possíveis orientadores para entender as expectativas e possibilidades dentro de cada linha. Eles podem, inclusive, dar sugestões sobre a elaboração do projeto.

Prova dissertativa de conhecimentos específicos: alguns programas aplicam uma prova escrita, geralmente dissertativa, com base em bibliografia indicada previamente no edital. Essa etapa costuma ter um peso bastante alto na somatória da nota do processo seletivo ou mesmo ter um caráter eliminatório.

A dica é: procure fazer uma leitura atenta e crítica das obras indicadas no edital. Se você deseja se prepar com mais antecedência, procure editais anteriores para verificar a bibliografia, ela não costuma variar muito de um ano para outro e pode ser uma boa base.

Entrevista ou defesa do projeto: candidatos aprovados nas etapas anteriores são chamados para uma entrevista presencial ou online com uma banca de professores. Nessa etapa, avaliam-se a maturidade acadêmica do candidato, o domínio sobre o tema proposto, a capacidade de argumentação e o alinhamento do projeto com o programa.

Análise do currículo Lattes: os programas avaliam o desempenho acadêmico do candidato na graduação (ou mestrado), publicações científicas, participação em grupos de pesquisa, congressos e outras experiências acadêmicas.​

O que é o Currículo Lattes?

O Currículo Lattes é um documento digital padronizado que reúne informações sobre a trajetória acadêmica e profissional de estudantes, professores e pesquisadores brasileiros. Ele é gerenciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e está disponível na Plataforma Lattes, que integra dados de formação, produção científica, atuação profissional, projetos, orientações, prêmios e outras atividades relevantes.

A dica é: antes mesmo de tentar o processo seletivo da pós-graduação, procure participar de eventos acadêmicos ​da sua área de interesse, apresentando, por exemplo, trabalhos que você desenvolveu ainda na graduação como o TCC ou artigos, ou já escrevendo - ainda que de forma mais ensaística - sobre o tema que você pretende pesquisar no mestrado. Procure também ter alguma publicação em revista acadêmica. No caso do doutorado, especificamente, ter alguma publicação é praticamente obrigatório.
Dica extra: também pode ser interessante ingressar em um grupo de pesquisa antes mesmo de entrar no mestrado ou doutorado de interesse. Se você já sabe em qual programa quer ingressar e qual linha de pesquisa lhe atrai mais, procure o professor cuja pesquisa mais lhe interessa e peça para fazer parte do grupo de pesquisa dele. Você terá uma oportunidade maior de entender o que é a pesquisa desenvolvida por ele e pelo grupo dele e poderá até compreender melhor se é o que você deseja. Além disso, terá contato desde cedo com a literatura da área e oportunidade de escrever e publicar artigos com outros pesquisadores, o que pode contar muito no processo seletivo. Além disso, a participação no grupo também já é um ponto favorável na análise do Currículo Lattes

Exame de proficiência em língua estrangeira: após aprovação, os candidatos precisam comprovar proficiência em idioma estrangeiro, geralmente inglês, mediante certificados como TOEFL ou exames aplicados pela própria universidade. O nível mínimo exigido costuma ser intermediário (B1). Em alguns programas essa comprovação pode ser apresentada ao longo da pós-graduação. No caso do doutorado, porém, é importante já ter o certificação no ato de inscrição.

Fique atento: a maior parte dos programas de doutorado exige, ainda, que uma segunda certificação seja apresentada ao longo do curso. Assim, se no mestrado você fez a proficiência em inglês, apresente-a na inscrição do doutorado e prepare-se para fazer uma proficiência em mais uma língua logo depois.

De forma geral, a escolha da língua é livre, mas o aluno pode considerar suas fontes de referência. Por exemplo: se sua pesquisa tem muitas referências francesas (autores e textos de pesquisas desenvolvidas e publicadas por lá), você pode optar por um proficiência em Francês. As proficiências mais comuns no Brasil, costumam ser o Inglês e o Espanhol.

Como escolher um orientador

Já falamos um pouco sobre a importância do orientador e sobre o quanto essa escolha é fundamental, mas vale um destaque para esse ponto.

O ideal é que o candidato pesquise o currículo Lattes dos professores do programa escolhido, para verificar suas publicações recentes, linhas de pesquisa e disponibilidade para orientação.

Para o doutorado, é recomendado entrar em contato prévio com o possível orientador antes da inscrição. No mestrado, a escolha pode acontecer durante o curso, mas conversar com professores de interesse o quanto antes facilita o processo.

​O que é um orientador e qual seu papel?

O professor orientador é o docente responsável por acompanhar, apoiar e supervisionar o desenvolvimento acadêmico e científico do aluno durante o mestrado ou doutorado. Seu papel vai muito além de corrigir textos: ele orienta a escolha do tema, ajuda a delimitar o problema de pesquisa, sugere bibliografia, discute metodologias, acompanha o andamento do projeto e prepara o aluno para apresentações, publicações e defesa da dissertação ou tese.

Além disso, o orientador atua como mentor acadêmico, oferecendo conselhos sobre carreira, ética científica e inserção em grupos de pesquisa, e pode facilitar o acesso a bolsas, eventos e redes de colaboração. A relação entre orientador e orientando é fundamental para o sucesso do trabalho e para a formação do pesquisador, exigindo diálogo, empatia e compromisso de ambas as partes.

Perguntas comuns na entrevista

Como dito acima, é comum que os processos seletivos contem com bancas onde o candidato tem a oportunidade de falar um pouco sobre si, sua trajetória e interesses de pesquisa, além de explicar e defender seu projeto.

Por isso, as bancas costumam fazer perguntas sobre o tema da pesquisa, a metodologia, a relevância do projeto. Também são comuns perguntas sobre experiências acadêmica e suas motivações (pessoais e profissionais) para fazer mestrado ou doutorado.

Em alguns casos, os professores da banca também podem questionar sobre o conhecimento do candidato em relação ao programa, suas linhas de pesquisa e infraestrutura.​

Bolsas de estudo

Programas bem avaliados pela CAPES oferecem bolsas de estudo para alunos de mestrado e doutorado. O valor atual é de R$ 2.100 para mestrado e R$ 3.100 para doutorado.

As bolsas são distribuídas conforme a classificação no processo seletivo e disponibilidade de cotas do programa. Há também bolsas oferecidas pelo CNPq e por agências estaduais de fomento, como a FAPESP (de São Paulo) e a FAPERGS (do Rio Grande do Sul), por exemplo.​

As principais modalidades de bolsas de pós-graduação no Brasil são oferecidas por CAPES e CNPq, e variam conforme o perfil do aluno e o tipo de dedicação exigida. Veja as diferenças e benefícios de cada uma:

1. Bolsa de Dedicação Exclusiva (Tipo I)

  • Exige que o aluno se dedique integralmente ao curso, sem vínculo empregatício formal ou outra atividade remunerada (exceto casos previstos em regulamento).

  • O aluno recebe mensalidade fixa: atualmente, cerca de R$ 2.100 para mestrado e R$ 3.100 para doutorado (CAPES).

  • Inclui benefícios como isenção de taxas escolares, acesso a recursos para pesquisa e participação em eventos acadêmicos.

  • O bolsista não pode acumular bolsa com emprego formal, salvo exceções previstas em edital.

2. Bolsa de Demanda Social (Tipo II)

  • Destinada a alunos que podem ter vínculo empregatício, desde que comprovem compatibilidade de horários e dedicação mínima exigida pelo programa.

  • O valor da bolsa costuma corresponder apenas à mensalidade do curso, ou seja, ele ganha apenas o mestrado e doutorado pagos, sem uma renda para se manter estudando em tempo integral.​

  • Programas de pós-graduação com conceito CAPES entre 3 e 5 geralmente oferecem essa modalidade.

3. Bolsa de Excelência Acadêmica (PROEX)

  • Oferecida para programas de pós-graduação com conceito CAPES 6 ou 7, reconhecidos pela excelência acadêmica.

  • O valor é igual ao da dedicação exclusiva, mas pode incluir recursos adicionais para pesquisa, participação em eventos e intercâmbio.

4. Bolsas CNPq

  • Modalidades semelhantes às da CAPES: dedicação exclusiva, demanda social, doutorado sanduíche (parte dos estudos no exterior), pós-doutorado, entre outras.

  • Os valores variam conforme o nível e a modalidade, mas para mestrado e doutorado são próximos aos da CAPES.

  • Incluem benefícios como auxílio instalação, seguro saúde e passagens para bolsas no exterior.

5. Bolsas Institucionais e Estaduais

  • Fundações estaduais (FAPESP, FAPERJ, FAPEMIG) e universidades podem oferecer bolsas próprias, com regras e valores específicos.

A pós-graduação é pra você?

Para avaliar se a pós-graduação é o caminho certo, o candidato deve refletir sobre seus objetivos profissionais, disponibilidade de tempo, interesse por pesquisa e disposição para enfrentar desafios acadêmicos de longo prazo. É importante considerar se busca crescimento na carreira acadêmica, atuação em pesquisa, docência no ensino superior ou especialização em determinada área do conhecimento.

Entre as qualidades essenciais de um pesquisador, destacam-se:

  • Curiosidade intelectual: vontade de aprender, investigar e questionar o conhecimento estabelecido.
  • Disciplina e organização: capacidade de gerenciar prazos, leituras, experimentos e produção de textos acadêmicos.
  • Persistência: resiliência para lidar com dificuldades, críticas e eventuais fracassos ao longo do processo.
  • Autonomia: iniciativa para buscar soluções, propor ideias e conduzir o próprio projeto de pesquisa.
  • Capacidade de análise crítica: habilidade para interpretar dados, argumentar e avaliar informações de forma rigorosa.
  • Trabalho em equipe e comunicação: saber dialogar com orientadores, colegas e grupos de pesquisa, além de apresentar resultados de forma clara.

A decisão pela pós-graduação deve ser pautada por autoconhecimento, clareza de objetivos e disposição para o desenvolvimento contínuo, pois o percurso exige dedicação e paixão pelo saber científico.