Um novo relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) reacendeu uma antiga discussão que há anos divide opiniões no Brasil: a volta do horário de verão. Embora o documento não cite diretamente a medida, especialistas já avaliam que, diante das novas projeções de aumento na demanda por energia e dos desafios operacionais apontados, o retorno da mudança nos relógios pode voltar a ser considerado pelo governo em 2025.

O alerta veio com a publicação do Plano da Operação Energética (PEN 2025), divulgado na terça-feira (8), que traz uma análise aprofundada do fornecimento energético no país para os próximos cinco anos.

Segundo o relatório, o Brasil deve enfrentar um crescimento expressivo no consumo de energia, com a carga saltando para 94,6 gigawatts médios (GWmed) até 2029, um aumento de 14,1% em relação aos níveis atuais. Isso representa uma taxa média anual de crescimento de 3,4%, impulsionada, principalmente, pela expansão da micro e minigeração distribuída, especialmente a energia solar.

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Fontes intermitentes exigem respostas rápidas do sistema

De acordo com o ONS, esse crescimento trará consigo um conjunto de novos desafios, especialmente relacionados à estabilidade da rede nos chamados "horários de rampa", períodos em que o consumo de energia aumenta rapidamente, como ao entardecer. Nesses momentos, a geração solar, que será responsável por quase um terço (32,9%) da matriz elétrica nacional em 2029, começa a cair, enquanto o consumo residencial e comercial atinge picos.

"O avanço das fontes intermitentes, como solar e eólica, traz ganhos ambientais e econômicos, mas exige uma resposta rápida de fontes controláveis, como hidrelétricas e térmicas, para equilibrar o sistema", explicou Marcio Rea, diretor-geral do ONS. "A flexibilidade operativa será cada vez mais essencial para manter a segurança elétrica do país", completou.

Risco de desequilíbrio estrutural

O relatório também chama atenção para outro ponto sensível: a capacidade de entrega de potência, ou seja, a habilidade do sistema de fornecer energia em momentos de maior exigência. As projeções indicam um desequilíbrio estrutural nesse quesito já nos próximos anos, o que pode forçar o acionamento mais frequente de usinas térmicas, principalmente no segundo semestre, quando a geração hidráulica tende a cair e os reservatórios ficam sob pressão.

Diante desse cenário, o ONS recomenda ao governo federal a realização urgente de leilões anuais de contratação de potência, como forma de garantir uma reserva energética que possa ser acionada rapidamente.

Horário de verão: solução?

Ainda que o documento não mencione diretamente o horário de verão, analistas interpretam que a medida pode voltar a ser debatida como uma estratégia para reduzir a pressão sobre o sistema nos fins de tarde, exatamente o período mais crítico para a operação energética no Brasil.

O horário de verão foi extinto em 2019, sob a justificativa de que seu efeito sobre a economia de energia havia diminuído nos últimos anos, devido às mudanças no perfil de consumo da população e à popularização de equipamentos com maior eficiência energética.

No entanto, com a crescente participação da energia solar, que desaparece do sistema justamente nos momentos de pico, e o risco de sobrecarga, a lógica por trás da adoção do horário de verão pode ganhar nova força.

Para especialistas do setor, a simples alteração no horário pode ajudar a aliviar o consumo nos períodos mais críticos, reduzindo o acionamento de usinas térmicas, que são mais caras e poluentes. Além disso, a medida seria de rápida implementação e baixo custo, podendo funcionar como uma solução complementar a investimentos estruturais que ainda levarão anos para se concretizar.

Governo ainda não se manifestou

Apesar da controvérsia, a eventual volta do horário de verão dependerá de estudos atualizados de impacto e da decisão do governo federal, que ainda não se manifestou oficialmente sobre o assunto. No entanto, o relatório do ONS pode ser o primeiro sinal de que o debate está prestes a voltar à pauta.