O Governo Federal publicou, nesta segunda-feira (21), mais uma alteração nas normas do Bolsa Família, endurecendo as condições de entrada de novas famílias no programa social. A mudança consta na Portaria nº 1.100, assinada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), que modifica a Portaria nº 897, de julho de 2023, e redefine os critérios de habilitação ao benefício nos municípios.

Segundo o novo texto, as prefeituras poderão adotar ajustes no processo de habilitação de famílias, com base na taxa de cobertura local e nas estimativas de pobreza ou vulnerabilidade. Isso significa, na prática, que o ingresso de novos beneficiários poderá ser limitado em regiões onde o governo considerar que a cobertura já está próxima do limite estimado. O objetivo, segundo o MDS, é "ampliar a eficiência na destinação dos recursos aos estratos sociais mais vulneráveis".

A medida aprofunda o processo de reestruturação do Bolsa Família, iniciado no começo de 2025, e que já vem resultando em uma queda expressiva no número de beneficiários. Só entre junho e julho deste ano, mais de 958 mil famílias foram retiradas da folha de pagamento. No comparativo com dezembro de 2024, o corte já ultrapassa 1,2 milhão de famílias excluídas.

Cortes em julho por estado

Dados divulgados pelo próprio Ministério mostram que o estado de São Paulo foi o mais afetado pelas exclusões no último ciclo de pagamentos. Foram 126 mil famílias que tiveram o benefício suspenso no estado, o maior número entre todas as unidades da federação.

O Governo afirma que a maioria das exclusões decorre da atualização cadastral e da aplicação mais rigorosa das regras de renda familiar, além da saída natural de famílias que superaram os limites de elegibilidade.

Veja o número de cortes do benefício por estado nos meses de junho e julho:

Estado Beneficiários em Junho Beneficiários em Julho Diferença
Acre 132.727 128.156 4.571
Alagoas 534.383 512.841 21.542
Amapá 123.341 119.264 4.077
Amazonas 647.475 628.746 18.729
Bahia 2.469.343 2.383.390 85.953
Ceará 1.450.533 1.400.210 50.323
Distrito Federal 170.393 161.234 9.159
Espírito Santo 308.742 292.577 16.165
Goiás 488.805 461.652 27.153
Maranhão 1.235.632 1.197.658 37.974
Mato Grosso 244.306 230.954 13.352
Mato Grosso do Sul 201.512 190.601 10.911
Minas Gerais 1.569.811 1.484.883 84.928
Pará 1.347.400 1.305.816 41.584
Paraíba 667.504 640.883 26.621
Paraná 602.065 569.612 32.453
Pernambuco 1.582.204 1.523.850 58.354
Piauí 590.619 568.678 21.941
Rio de Janeiro 1.576.347 1.511.598 64.749
Rio Grande do Norte 498.014 479.224 18.790
Rio Grande do Sul 613.121 575.240 37.881
Rondônia 133.820 130.111 3.709
Roraima 80.441 78.775 1.666
Santa Catarina 229.817 215.499 14.318
São Paulo 2.466.857 2.340.344 126.513
Sergipe 378.730 364.468 14.262
Tocantins 155.085 147.631 7.454

Mudanças na Regra de Proteção e exclusões em massa

Entre as alterações mais impactantes está a revisão da chamada Regra de Proteção, que permitia que famílias com renda per capita mensal entre R$ 218 e R$ 758 permanecessem no programa por até 24 meses. Desde junho de 2025, esse valor máximo caiu para R$ 706, e o tempo de permanência foi reduzido para 12 meses. Com isso, aproximadamente 500 mil famílias perderam o direito ao benefício.

O benefício para quem está na Regra de Proteção também sofreu restrições. As famílias nessa situação recebem 50% da parcela regular do Bolsa Família, ou seja, R$ 300, o que representa uma redução na renda mensal.

Ainda segundo o governo, 536 mil famílias deixaram de receber o benefício em julho por ultrapassarem o limite de dois anos na Regra de Proteção. Outras 421 mil foram excluídas por atingirem renda acima do teto de meio salário mínimo por integrante familiar.

A expectativa do Ministério é que a reestruturação do programa reduza em cerca de R$ 500 milhões os custos do ciclo de julho, reforçando o ajuste fiscal e a destinação de recursos para as famílias em maior vulnerabilidade.

Evolução da queda no número de beneficiários

Os dados oficiais revelam um declínio constante na quantidade de famílias atendidas desde o fim de 2024:

  • Dez/2024: 20.811.774
  • Jan/2025: 20.486.299
  • Fev/2025: 20.558.394
  • Mar/2025: 20.503.423
  • Abr/2025: 20.488.545
  • Mai/2025: 20.461.958
  • Jun/2025: 20.499.027
  • Jul/2025: 19.643.223

O valor médio pago em julho subiu para R$ 671,52 por família, reflexo da exclusão de famílias com parcelas menores. O orçamento do Bolsa Família também foi revisto: o valor anual passou de R$ 169 bilhões em 2024 para R$ 160 bilhões em 2025, conforme informado pelo MDS.

Atualização cadastral é essencial para manter o benefício

O Governo reforça que a atualização do Cadastro Único (CadÚnico) é obrigatória para quem deseja continuar recebendo o Bolsa Família. Famílias que não atualizarem suas informações podem ter o pagamento bloqueado ou cancelado.

A recomendação é procurar o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) mais próximo sempre que houver:

  • Alteração na composição familiar (nascimentos, mortes, separações);
  • Mudança de endereço ou escola das crianças;
  • Mudança na renda dos membros da família.

Documentos exigidos:

  • CPF e RG de todos os integrantes da família;
  • Comprovante de residência atualizado;
  • Declaração escolar de menores de idade.

Em famílias unipessoais (com apenas uma pessoa), o CRAS poderá solicitar visita domiciliar para validar as informações prestadas.

Calendário de pagamentos de julho

Os repasses do Bolsa Família de julho estão em andamento e seguem até o dia 31, conforme o dígito final do NIS:

Final do NIS Data de pagamento Dia da semana
1 18 de julho Sexta-feira
2 21 de julho Segunda-feira
3 22 de julho Terça-feira
4 23 de julho Quarta-feira
5 24 de julho Quinta-feira
6 25 de julho Sexta-feira
7 28 de julho Segunda-feira
8 29 de julho Terça-feira
9 30 de julho Quarta-feira
0 31 de julho Quinta-feira