O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a tecer críticas contra o patamar em que se encontra a taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia. Ele fez uma fala durante uma visita ao Complexo Naval de Itaguaí, no Rio de Janeiro, para conhecer avanços do Programa de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha do Brasil.

Fala de Lula durante visita à instalações da Marinha. Créditos: Reprodução/TVBrasil
Fala de Lula durante visita à instalações da Marinha. Créditos: Reprodução/TVBrasil

A crítica veio um dia após o término da segunda reunião de 2023 do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O encontro aconteceu nessa terça e quarta-feira, dias 21 e 22 de março. O órgão tem como principal responsabilidade, tomar decisões sobre a Taxa Selic. E a decisão foi por mantê-la em 13,75% ao ano.

A Selic já está nesse patamar desde agosto de 2022 e segundo Lula, está excessivamente elevada considerando a situação fiscal e econômica do Brasil hoje. Essa não é a primeira vez que Lula ou um de seus ministros critica a Selic. Desde quando assumiu, em janeiro, o governo vem pressionando o BC por uma diminuição.

Lula sobre a Selic: "Ninguém no mundo explica"

A fala de Lula sobre a Taxa Selic e sobre sua manutenção em 13,75%, foi durante entrevista coletiva concedida aos jornalistas durante a visita à Marinha.

"Eu digo todo dia: não tem explicação pra nenhum ser humano no planeta Terra a taxa de juros nesse país estar em 13,75%, não existe explicação", disse ele.

O presidente destacou ainda que sua preocupação é com o crescimento da economia brasileira. Seu desejo é de que ela cresça além da média esperada, mas que para isso precisa da redução da taxa de juros.

"A única coisa que eu sei é que a economia brasileira precisa crescer, nós precisamos gerar emprego, é preciso garantir emprego porque é a única coisa que garante tranquilidade e dignidade ao povo. É esse país que eu quero construi e é esse país que nós vamos construir", declarou.

Questionado, Lula falou ainda brevemente sobre Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, com quem vem trocando alfinetadas desde o início do ano.

"Quem tem cuidar do Campos Neto é o Senado, que o indicou. Ele não foi eleito pelo povo, ele não foi indicado pelo presidente, ele foi indicado pelo Senado. Quando eu tinha o [Henrique] Merielles que era indicado meu, eu conversava com o Meirelles. Mas agora, se esse cidadão quiser, ele nem precisa conversar comigo"

Instigado pelos repórteres o presidente ainda chamou a atenção:

"Ele só tem que cumprir a lei que estabeleceu a autonomia do Banco Central, ele precisa cuidar da política monetária, mas ele precisa cuidar também do emprego e da renda do povo. É isso que tá na lei. E todo mundo sabe que ele não tá fazendo. Se ele estivesse fazendo eu não tava reclamando"

Veja no vídeo abaixo a entrevista completa concedida pelo presidente Lula:

O que disse o relatório do Copom

O principal argumento utilizado pelo Copom para manter a Taxa Selic em 13,75% é de que desde a reunião anterior do Comitê, o ambiente externo se deteriorou.

"Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Em paralelo, dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista".

Em relação ao cenário doméstico, o comitê disse que o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado.

"A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação".

Ainda assim, destacou-se que as expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus se elevaram desde a reunião anterior do Copom e encontram-se em torno de 6% e 4,1%, respectivamente.

O Comitê destacou ainda uma lista de fatores de risco para a inflação:

  1. uma maior persistência das pressões inflacionárias globais;
  2. a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública; e
  3. uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Por outro lado, entre os riscos de baixa, ressaltaram-se:

  1. uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local;
  2. uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e
  3. uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Por isso,

"Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego."

Novo arcabouço fiscal

Uma das expectativas que há é em torno da aprovação de um novo arcabouço fiscal por parte do Governo Federal. O Copom vem temendo uma instabilidade fiscal porque o governo Lula tem como principal bandeira os programas sociais, e o arcabouço fiscal em vigor até então limita os gastos do governo a um teto máximo.

No entanto, o novo documento que já foi apresentado a várias autoridades políticas e econômicas e deve ser aprovado nos próximos dias. Quando isso acontecer, deverá haver uma mudança nesse cenário de forma que a base fiscal possa ser mais estável e que o governo consiga dar atenção aos programas sem estourar o teto - porque ele deixará de existir.

Acredita-se, assim, que o Copom poderá reduzir a Selic quando esse novo modelo for aprovado, o que deve acontecer em breve.