O cenário de altos preços do gás de cozinha tem impactado diretamente o dia a dia de milhões de brasileiros. Pensando em oferecer uma solução permanente para essa realidade, o Governo Federal anunciou a criação do Programa Gás do Povo, que substituirá o antigo Auxílio Gás dos Brasileiros. A proposta vai muito além do auxílio temporário: trata-se de uma política pública estruturada, com meta de alcançar 15,5 milhões de famílias até 2026, garantindo o acesso regular e gratuito ao botijão de 13 kg.

Estima-se que mais de 50 milhões de pessoas sejam beneficiadas em todo o território nacional. O objetivo central do programa não é apenas reduzir custos, mas fortalecer a segurança alimentar, evitar riscos de saúde associados ao uso de lenha e carvão e oferecer mais dignidade para famílias em situação de vulnerabilidade.

Por que o Gás do Povo foi criado?

O novo programa surge após críticas ao modelo anterior, o Auxílio Gás, criado em 2021. Apesar de bem-intencionado, ele alcançava apenas 5,1 milhões de famílias e funcionava por meio de repasse em dinheiro. A limitação orçamentária e a falta de critérios claros de inclusão geraram insatisfação, já que nem todos os beneficiários do Bolsa Família tinham acesso.

O Gás do Povo busca corrigir essas falhas. A principal mudança está na forma de concessão: em vez de repasse em dinheiro, haverá a entrega direta do botijão gratuito, por meio de revendedores credenciados. Isso reduz intermediários, amplia o alcance e garante maior controle sobre o benefício.

Outro ponto destacado pelo governo é o preço real do gás. Embora a Petrobras pratique valores em torno de R$ 37 por botijão, o consumidor final paga até R$ 140 devido aos custos de distribuição e revenda. O novo modelo pretende eliminar parte dessa distorção para o público de baixa renda.

Como receber o Gás do Povo?

Não será necessário realizar inscrição. O governo utilizará os dados do Cadastro Único (CadÚnico) para definir quem será contemplado. O público-alvo do programa inclui:

  • Famílias com renda per capita de até meio salário mínimo (R$ 759 em 2025);
  • Beneficiários do Bolsa Família, cuja renda per capita máxima é de R$ 218;
  • Prioridade para famílias maiores e com renda mais baixa.

Apesar de a previsão ser atender 15,5 milhões de famílias, o número de beneficiários do Bolsa Família é maior, cerca de 19 milhões. Isso significa que nem todos os inscritos no programa social terão direito automático ao botijão gratuito.

É essencial que os dados no CadÚnico estejam sempre atualizados, já que inconsistências podem impedir o acesso ao benefício.

Quantos botijões cada família poderá receber?

O fornecimento de gás não será ilimitado. A quantidade de botijões por ano dependerá do tamanho do núcleo familiar:

  • Famílias com 2 pessoas: até 3 botijões por ano (1 a cada 4 meses);
  • Famílias com 3 pessoas: até 4 botijões por ano (1 a cada 3 meses);
  • Famílias com 4 ou mais: até 6 botijões por ano (1 a cada 2 meses).

O critério foi pensado para garantir justiça social, equilibrando a oferta de acordo com a necessidade de cada domicílio.

Como será feita a retirada?

O Gás do Povo não prevê repasses em dinheiro. O beneficiário terá direito ao botijão diretamente na revenda credenciada, mediante validação eletrônica em uma das seguintes formas:

  • Aplicativo oficial do programa (vale digital);
  • Cartão próprio do Gás do Povo;
  • QR Code disponível em app ou agências da Caixa;
  • Cartão do Bolsa Família.

A retirada será gratuita, mas se o beneficiário optar por entrega em domicílio, o custo do frete será de sua responsabilidade. O aplicativo deve ser lançado em breve, mas o governo reitera que ele ainda não está disponível.

Quando o programa começa?

O cronograma do governo prevê duas etapas:

  • Novembro de 2025: primeiras entregas de botijões em caráter piloto;
  • Março de 2026: expansão para todas as 15,5 milhões de famílias elegíveis.

As distribuidoras participantes terão identidade visual padronizada, facilitando a identificação nos pontos de venda. O aplicativo oficial também trará a lista atualizada de locais credenciados em cada cidade.

E se não houver revenda credenciada no município?

A legislação determina que distribuidoras com mais de 10% de participação no estado deverão garantir cobertura mesmo em cidades menores. Se ainda assim não houver oferta local, o beneficiário precisará buscar o botijão na cidade mais próxima com revenda habilitada.

O programa também tem um caráter de saúde preventiva. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a queima de lenha pode aumentar em até 33 vezes os poluentes no ar dentro de casa, elevando o risco de doenças respiratórias. Em muitas regiões do Brasil, esse ainda é o método de preparo de alimentos usado por famílias sem condições de comprar gás.

Com o Gás do Povo, o governo espera reduzir essas práticas, ampliando o acesso a uma alternativa limpa e segura.

O custo estimado é de R$ 3,57 bilhões em 2025, chegando a R$ 5,1 bilhões em 2026. Os recursos virão do orçamento da União, já previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA). O pagamento às revendas será feito com base em preços de referência do GLP em cada estado, definidos pelo Ministério de Minas e Energia (MME), Ministério da Fazenda e Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Os beneficiários poderão consultar os detalhes por meio dos canais:

  • Disque 121 (funcionamento 24h);
  • Plataforma FalaBR;
  • Agências da Caixa Econômica Federal, especialmente para quem não tem acesso digital.