O Conselho da Petrobras anunciou, na última quinta-feira, 07 de agosto, que pretende voltar ao setor de distribuição de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o popular gás de cozinha. A decisão do conselho de administração da estatal abre espaço para que o governo federal, principal acionista, estude maneiras de integrar o retorno da empresa ao abastecimento de programas sociais, como o Cadastro Único (CadÚnico), utilizado para o pagamento do Vale-Gás.
O movimento vem em um momento de forte pressão por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reduzir o preço do botijão, que em algumas regiões ultrapassa os R$ 140, mesmo com a Petrobras vendendo o produto a cerca de R$ 37 na refinaria.
Petrobras pode vender gás de cozinha direto ao consumidor?
Embora a estatal ainda não tenha detalhado como será sua volta ao mercado, existe a possibilidade de venda direta ou por meio de parcerias com redes de revenda, o que poderia reduzir as margens de lucro ao longo da cadeia e baratear o preço final para a população.
A iniciativa também abre espaço para que a Petrobras fortaleça o Vale-Gás ao fornecer o produto de forma mais barata para famílias inscritas no CadÚnico, que atualmente recebem um subsídio do governo para ajudar na compra do botijão.
Saída do setor durante o governo Bolsonaro
O retorno da Petrobras ao GLP acontece quatro anos após a venda da Liquigás, sua antiga subsidiária de distribuição, para as empresas privadas Copagaz e Nacional Gás Butano.
Na época, a estatal, sob comando de Roberto Castello Branco, afirmou que a decisão fazia parte de uma estratégia para concentrar investimentos na exploração de petróleo em águas profundas e reduzir dívidas.
Antes da privatização, a Liquigás tinha atuação em todos os estados brasileiros, 23 centros operacionais e cerca de 4,8 mil revendedores autorizados, com participação de mercado de 21,4%, ou seja, um em cada cinco botijões vendidos no país vinha de sua rede.
Lula critica preço do botijão e pede mudança
Durante um evento em Cachoeira dos Índios (PB), em maio deste ano, o presidente Lula demonstrou insatisfação com a diferença de preços entre o que sai da Petrobras e o que chega ao consumidor:
"A Petrobras manda o gás de cozinha a R$ 37. Quando é que chega aqui? Cento e dez reais, R$ 120, tem estado que é R$ 140. Está errado. Não se pode pagar R$ 140 por algo que custa R$ 37 da Petrobras."
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) classificou a decisão como "uma vitória histórica dos trabalhadores" e defendeu que a Petrobras volte a atuar na distribuição para impedir que as reduções feitas nas refinarias sejam absorvidas apenas pelos intermediários.
Venda direta de gasolina não foi incluída no plano
Apesar da retomada no gás, a Petrobras ainda não sinalizou retorno à venda direta de gasolina. A estatal também havia deixado o setor ao vender a BR Distribuidora, hoje Vibra Energia, durante o governo anterior.
Em maio, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, lamentou que postos com a bandeira BR estejam praticando preços que ela considera acima do justo, mesmo sem a companhia ter mais controle sobre a rede.
Resultados financeiros e impacto para o governo
A decisão foi anunciada no mesmo dia em que a Petrobras divulgou lucro líquido de R$ 26,7 bilhões no segundo trimestre de 2025, uma queda de 24,3% em relação ao trimestre anterior, mas reversão expressiva em comparação ao prejuízo de R$ 2,6 bilhões no mesmo período de 2024.
A estatal também informou que distribuirá R$ 8,66 bilhões em dividendos e Juros sobre Capital Próprio (JCP). O governo federal receberá cerca de 29% desse valor, enquanto o BNDES ficará com aproximadamente 8%.
Petrobras e CadÚnico: o que esperar?
Se o retorno da Petrobras ao setor de distribuição de GLP for aliado a uma estratégia social, especialistas acreditam que será possível ampliar o alcance do Vale-Gás e reduzir o impacto da inflação no orçamento das famílias mais vulneráveis.
O projeto ainda depende de definições logísticas e comerciais, mas o alinhamento entre governo e estatal pode acelerar a implementação. Caso isso ocorra, famílias inscritas no CadÚnico podem ter acesso facilitado ao gás de cozinha a preços menores já nos próximos anos.
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