A assinatura do Projeto de Lei dos Aplicativos pelo presidente Lula (PT) na última segunda-feira, 04 de março, trouxe à tona uma série de discussões e preocupações, especialmente entre os motoboys, entregadores, mototaxistas e bike boys do Brasil. O Conselho dos Sindicatos de Motoboys, Entregadores, Mototaxistas e Bike Boys do Brasil emitiu uma nota oficial, expressando apreensão em relação às implicações do PL para os trabalhadores.

De acordo com a nota, os motoboys alegam que o modelo proposto no PL é essencialmente o mesmo defendido por gigantes como Uber, iFood, Rappi e 99. O ponto crucial da discordância reside na definição de autonomia para os trabalhadores. Segundo a categoria, embora rotulados como autônomos, os motoboys não têm, de fato, controle sobre fatores essenciais, como o preço das entregas e o recebimento direto dos clientes.

A nota destaca que a relação entre empresas e entregadores envolve uma submissão e subordinação total e direta, conforme já comprovado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Os motoboys argumentam que o PL, se aprovado, pode resultar na "aniquilação total" da proteção trabalhista, inclusive para aqueles que atualmente são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Créditos: Divulgação/SindimotoSP
Créditos: Divulgação/SindimotoSP

Exclusão dos entregadores nas negociações

Uma das principais queixas dos motoboys é a exclusão da categoria nas negociações do Projeto de Lei. A falta de acordo ou consenso com as empresas de aplicativo levou a esse cenário, onde questões como liberdade de horário, dias de trabalho e garantia de ganho mínimo foram deixadas de lado. O presidente do SindimotoSP, Gil dos Motoboys, ressalta que a autonomia vai além dessas questões superficiais.

"O governo assume sozinho o protagonismo e as consequências dessa destruição dos direitos trabalhistas," afirma Gil dos Motoboys.

Entendendo o PL dos Aplicativos

O PL proposto enquadra os motoristas como trabalhadores autônomos, sem vínculo pela CLT, e determina uma contribuição ao INSS de 27,5%. Destes, 7,5% seriam pagos pelos trabalhadores e 20% recolhidos pelas empresas. A decisão de pagamento por hora trabalhada, ao invés de quilômetro rodado e tempo de viagem, tem gerado críticas por parte das entidades representativas do setor.

A Federação Brasileira de Motoristas de Aplicativos (Fembrapp) e a Associação dos Motoristas de Aplicativos de São Paulo (AMASP) também expressaram descontentamento, alegando que a proposta é prejudicial para os trabalhadores.

Se aprovado conforme submetido ao Congresso, diversas mudanças aguardam os trabalhadores no setor de aplicativos:

Contribuição ao INSS: Tanto os motoristas quanto as empresas serão responsáveis por contribuir para o INSS. A alíquota será de 7,5% sobre a remuneração para os trabalhadores e de 20% para os empregadores.

Direitos às Mulheres: As motoristas de aplicativo passarão a ter direito ao auxílio-maternidade, uma medida crucial para assegurar estabilidade financeira durante o período de gestação e pós-parto.

Jornada de Trabalho: A jornada laboral será limitada a 8 horas diárias, com a possibilidade de estender-se a um máximo de 12 horas, mediante aprovação em acordo coletivo pelo sindicato.

Acordo de Exclusividade: Não será mais permitida a celebração de acordos de exclusividade, possibilitando que os motoristas atuem em quantas plataformas desejarem.

Remuneração para Custos: Cada hora trabalhada renderá R$ 24,07, destinados a cobrir despesas como celular, combustível, manutenção do veículo, seguro, impostos e outros gastos, sem integrar a remuneração, sendo um valor indenizatório.

Representação Sindical: Os motoristas serão representados por sindicatos em negociações coletivas, na assinatura de acordos e convenções, além de participarem de demandas judiciais e extrajudiciais.

Para os usuários, é possível que ocorra um aumento nos valores de corridas e entregas, devido ao aumento da carga tributária para as empresas. Consequentemente, o serviço pode se tornar menos atrativo, levando a uma possível diminuição na demanda.