O que mais se ouve dizer em meio a conversas de concurseiros e até mesmo servidores é de que antigamente os concursos eram mais fáceis que hoje. Mas será que isso é verdade mesmo ou somente um boato?

Sem desmerecer os concurseiros e servidores mais antigos, sem dúvidas, os concursos hoje são muito mais difíceis que os concursos de 5, 10 anos atrás. Isso porque as questões dos concursos de hoje são muito mais complexas e longas, mais elaboradas, certames com muito mais candidatos inscritos, muito mais conteúdos programáticos em relação a concursos antigos, muito mais matérias, requisitos para ingresso no cargo cada vez mais exigentes, e uma infinidade de exigências maiores.

Embora antigamente houvessem menos materiais especializados, menos empresas especializadas na preparação de concursos, menos acessibilidade a materiais preparatórios e conteúdos online de estudos, o conteúdo cobrado e a concorrência eram bem menores do que hoje.

Ainda, em razão da dificuldade em acessar a internet, os estudantes na época buscavam livros, apostilas de bancas de jornais e cursos presenciais e deviam estar atento aos jornais onde saiam a divulgação dos editais ou no próprio local onde seria promovido o concurso. A transparência nesse sentido melhorou bastante.

As questões cobradas nos concursos de tempos atrás eram mais previsíveis, ou seja, eram compostas de trechos exatos de livros e obras previstas na referência bibliográfica indicada pelo próprio Edital. Se os concursos antigos não cobravam trechos exatos da bibliográfica indicada no edital, eram apresentadas questões contendo textos exatos da letra fria da lei, que geralmente não exigiam interpretação mais aprofundada dos candidatos. Ainda, em sua grande maioria, previam expressamente no edital de abertura as referências bibliográficas para a preparação dos concurseiros, que não costumavam passar de duas obras por disciplina. Atualmente, a maioria dos concursos não indica sequer as referências bibliográficas e quando indica, cobram ao menos quatro ou cinco obras de autores distintos por disciplina. Concursos atuais cobram jurisprudências (entendimentos consolidados dos Tribunais Superiores) que raramente eram mencionadas em concursos há 10, 20 anos atrás, ou se eram, apenas em cargos de alto escalão, como juízes, promotores e defensores.

Ainda, nos anos 80 e 90 os salários pagos pelo Poder Público e pela iniciativa privada eram muito semelhantes. Atualmente, em virtude de diversos aspectos (políticos, econômicos, sociais, trabalhistas, tributários, etc...) a iniciativa privada não consegue pagar o mesmo que no poder público. Desta forma, os concursos antigamente não eram tão disputados como são hoje.

Para não ficarmos somente na teoria vamos trazer alguns dados, que comprovam que os concursos antigamente eram mais fáceis e menos concorridos se compararmos aos concursos atuais.

Na esfera do Poder Executivo iremos trazer uma comparação. O Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), por exemplo, teve seu primeiro concurso para os cargos de Técnico e Analista em 2003. Na época, foram ofertadas 3.800 vagas onde 4.800 candidatos foram efetivamente convocados e nomeados. Na oportunidade, 675.000 candidatos se inscreveram. Em 2003 o certame foi composto por prova objetiva (do tipo certo ou errado), contendo questões de conhecimentos básicos (50 questões) e conhecimentos específicos (75 questões). O certame foi realizado pelo CESPE. As maiores notas dos candidatos aprovados nas primeiras colocações foram de 85 pontos.

Já o último concurso do INSS ocorreu em 2015, também para cargos de técnico e analista. Neste foram 950 vagas onde não houve nenhuma nomeação de excedentes. Na oportunidade, 1.087.789 (um milhão, oitenta e sete mil e setecentos e oitenta e nove) se inscreveram. O concurso de 2015 foi composto por provas objetivas (certo ou errado), contendo questões de conhecimentos básicos (50 questões) e conhecimentos específicos (70 questões). O certame também foi realizado pelo CESPE. A maior nota da candidata aprovada na primeira colocação foi de 116 pontos (total de 120 pontos).

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Desta forma, com os dados apresentados podemos comparar o certame, do mesmo órgão e com os mesmos cargos, de 2003 com o certame de 2015. No concurso público de 2003 houve uma média de 140 candidatos por vaga enquanto no certame de 2016 foram 1.145 candidatos por vaga, 10 vezes mais.

O concurso de 2003 contou com 125 questões enquanto o de 2015 teve 120. Finalmente, a maior nota do certame de 2003 foi de 85 pontos enquanto a maior nota de 2015 foi de 116 pontos. Desta forma, podemos verificar que houve uma majoração de 37% no valor da maior nota se compararmos o concurso de 2003 com o de 2015. A diferença é tão exorbitante que os candidatos do concurso de 2015 com a mesma pontuação da maior nota do concurso de 2003 sequer foram classificados para lotações de algumas regiões, salvo alguns poucos inscritos com essa pontuação que estavam na reserva de vagas.

Assim, com as informações apresentados, resta claro que os concursos antigamente eram, de fato, mais fáceis e menos concorridos que os concursos atualmente. Desta forma, se você almeja um cargo público, deve estudar cada vez mais, uma vez que a cada dia que se passa os concursos se tornam mais competitivos e mais difíceis.